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sexta-feira, 19 de março de 2010
Copa do Mundo – Uruguai 1930
Os Preparativos Para a Primeira Copa do Mundo
No capítulo anterior de nossa História das Copas do Mundo explicamos as razões que levaram à escolha do Uruguai para sediar a I Copa do Mundo em 1930. Porém, o primeiro Campeonato Mundial nasceu sob o signo da incerteza. Até dois meses antes da abertura da Copa, nenhuma seleção da Europa havia confirmado presença na competição. Pior, algumas das grandes forças do futebol europeu já haviam anunciado que não iriam ao País sul-americano: Espanha, Áustria, Hungria, Itália, Tchecoslováquia, Suíça e Alemanha, entre elas. A desculpa era o tempo excessivo de viagem de navio entre os dois continentes (15 dias para ir e 15 para voltar). Além disso, o mundo ainda vivia as conseqüências da grande depressão econômica de 1929. Os ingleses, que nem sequer faziam parte da FIFA, também não viriam. Foi então que o próprio presidente da FIFA, Jules Rimet, entrou pessoalmente na questão, apelando para algumas federações do velho continente. No final, conseguiu com que a sua França, a Bélgica, a Iugoslávia e a Romênia garantissem sua participação na Copa. Pela Romênia, o próprio Rei Carol empenhou-se em selecionar a equipe e negociar com os patrões dos jogadores a ida dos mesmos ao Uruguai. Assim, finalmente, três seleções européias embarcariam a bordo do “Conte Verde” rumo à terra charrua (a iugoslava havia viajado antes no “Florida”) em busca do sonho dourado da I Copa do Mundo. Neste navio viajavam também Rimet, a taça e três árbitros europeus que apitariam no Mundial.
Ao País-sede e aos quatro Países europeus, somaram-se mais oito Países do continente americano, sendo sete da América do Sul mais os EUA. Todos se inscreveram na Copa ao aceitarem oficialmente o convite da FIFA. A Copa de 1930 foi a única da história a não ter Eliminatórias.
Para a realização do Mundial, o único da história a ser disputado em somente uma cidade, a capital Montevidéu, foram usados três estádios, sendo o maior deles, o “Centenário”, obra gigantesca do arquiteto Juan Scasso, com capacidade para 80 mil espectadores. Este estádio só ficaria pronto com o Campeonato já em andamento.
Confusão e Bairrismo no Brasil
O Brasil, através de sua federação, a CBD, foi um dos primeiros países a garantir presença no Mundial do Uruguai. A CBD, sediada no Rio de Janeiro, confirmou em maio de 1930 a lista de jogadores convocados para a Copa. Porém, a federação paulista (a APEA), apesar de concordar com a lista que continha 15 jogadores paulistas, não aceitava a formação da comissão técnica composta de três cariocas. A APEA exigia um representante paulista na comissão. A CBD, por sua vez, não concordava com as exigências paulistas. Assim, o impasse se prolongou até o fim, forçando a CBD a convocar 21 cariocas e apenas um paulista, Araken Patusca, que brigou com seu clube, o Santos, e furou o boicote de sua federação. Por esse bairrismo irresponsável, o Brasil acabou não levando a sua força máxima para a competição, onde foram notáveis as ausências de grandes craques paulistas da época como Friedenreich e Feitiço, entre outros. Sem um técnico propriamente dito, a seleção que pegaria carona no porto do Rio de Janeiro no “Conte Verde” rumo ao Uruguai era comandada por uma comissão formada por Píndaro de Carvalho, Gilberto de Almeida Rêgo, que também era árbitro, e Egas de Mendonça, todos cariocas. Sem conjunto, mas com bons valores individuais, o Brasil seguiu para o Uruguai sem realizar sequer um jogo-treino antes do Mundial. Na equipe nacional que participaria daquela Copa, destacavam-se o meia Fausto dos Santos, dono de uma das mais brilhantes carreiras do nosso futebol, e o atacante Preguinho, filho do escritor Coelho Neto, além do próprio Araken.
A Primeira Fase da Copa
Com o número de 13 países participantes, e não 16, a FIFA decidiu evitar jogos eliminatórios na primeira fase ao dividir as seleções em quatro grupos, cujos vencedores se classificariam automaticamente para as semifinais. Assim, a Copa do Mundo teve duas partidas iniciais disputadas simultaneamente em 13 de julho: França 4 x México 1, pelo grupo 1, no estádio “Pocitos” e EUA 3 x Bélgica 0, pelo grupo 4, no estádio “Parque Central”. O meia-direita francês Lucien Laurent foi o autor do primeiro gol da história das Copas.
Pelo grupo 1, apesar da estréia com goleada em cima dos mexicanos, a boa seleção francesa não conseguiria passar pela Argentina, na segunda rodada, perdendo por 1 a 0. Esta foi a partida que decidiu o grupo. A Argentina tinha uma equipe ainda mais forte do que a que decidira a Olimpíada de 1928, tendo no centro-médio Luis Monti, o seu grande destaque. A França ainda perderia surpreendentemente para o Chile. Os portenhos, por sua vez se imporiam ainda, com categoria, à Chile e México. Neste grupo, a partida Romênia 3 x Peru 1 teve o pior público da história das Copas: 300 pessoas.
Pelo grupo 2, o Brasil, sofrendo com um frio de quase zero, perderia a partida de estréia para a Iugoslávia por 2 a 1. Com jogadores individualmente melhores que os da equipe iugoslava, o Brasil seria derrotado pela sua falta de conjunto. Na partida seguinte, a Iugoslávia goleou a Bolívia por 4 a 0. Assim, de nada adiantou ao Brasil, com seis alterações em relação ao jogo anterior, vencer a Bolívia pelo mesmo placar. A Iugoslávia estava classificada para as semifinais.
Pelo grupo 3, o Uruguai estreou nervosamente contra o Peru, em partida que inaugurou o estádio “Centenário”. A vitória magra por 1 a 0 causou muitas críticas ao time da casa. Porém, na partida seguinte, com a entrada do veterano Hector Scarone, o Uruguai atropelaria a Romênia (4 a 0) e se classificaria para as semifinais. Pelo grupo 4, os EUA, com uma equipe recheada de profissionais ingleses e escoceses naturalizados americanos, sob o comando do famoso treinador Jack Coll, suplantariam as equipes do Paraguai e da Bélgica, com duas vitórias pelo mesmo placar: 3 a 0.
Os Estágios Finais do Mundial
Pelas semifinais da Copa de 1930, Uruguai e Argentina provaram que eram, de longe, as duas melhores seleções da competição ao arrasarem seus adversários, Iugoslávia e EUA, respectivamente, exatamente pelo mesmo placar: 6 a 1. Na partida entre Argentina e EUA, três jogadores americanos se contundiram seriamente e tiveram que abandonar o campo. Na época, não eram permitidas substituições durante os jogos. Já na partida entre uruguaios e iugoslavos, o juiz brasileiro Almeida Rêgo teve uma atuação bastante discutível, que prejudicou bastante a seleção européia.
Não houve decisão de terceiro lugar. A final foi disputada no dia 30 de julho. Era uma repetição da final olímpica de dois anos antes, em Amsterdã, quando o Uruguai havia batido a Argentina e conquistado o bicampeonato olímpico. Dessa vez, os argentinos queriam a vingança. Cerca de 15 mil portenhos atravessaram o Rio da Prata aos gritos de “Victoria o muerte” para torcer por sua seleção. A preocupação com a segurança era grande. Os torcedores eram revistados atrás de armas. Entre 80 e 93 mil pessoas lotaram o “Centenário” que foi aberto seis horas antes do início da partida. Argentinos e uruguaios, cada qual, queriam jogar com sua bola. A FIFA decidiu então que a bola argentina seria empregada no primeiro tempo e a uruguaia, no segundo. O árbitro belga Jean Langenus, escalado para apitar a final, temia por sua segurança. O primeiro tempo terminou com os uruguaios perdendo por 2 a 1. Porém, na segunda etapa, fez-se valer a velha garra uruguaia. Aos 23 minutos da etapa final, o Uruguai já havia virado para 3 a 2. Os argentinos voltaram a pressionar. Bolas eram salvas em cima da linha da meta uruguaia. Porém, em um contra-ataque, no penúltimo minuto de jogo, a seleção da casa anotaria o seu quarto gol, através de Castro, que selaria a vitória do Uruguai por 4 a 2 e, com ela, o título inédito de campeão mundial de futebol, que se somaria ao de bicampeão olímpico.
Ficha Técnica da FinalUruguai 4 x Argentina 2
Local: Estádio Centenário (Montevidéu)
Público: 80.000
Juiz: Jean Langenus (Bélgica)
Assistentes: Ulises Saucedo (Bolívia) e Henry Cristophe (Bélgica)
Gols: Dorado 12, Peucelle 20 e Stábile 37 do 1º. Cea 12, Iriarte 23 e Castro 44 do 2º tempo.
Uruguai: Ballesteros, Nasazzi e Mascheroni, Andrade, Fernandez e Gestido, Dorado, Scarone, Castro, Cea e Iriarte. Técnico: Alberto Suppici
Argentina: Botasso, Della Torre e Paternoster, Juan Evaristo, Monti e Suarez, Peucelle, Varallo, Stabile, Ferreira e Manuel Evaristo. Técnico: Juan Tramutola
Os Campeões do Mundo
URUGUAI
Goleiros: Ballesteros (Rampla Juniors) e Capuccini (Peñarol)
Defensores: Mascheroni (Olimpia), Nasazzi (Bella Vista), Recoba (Nacional) e Tejera (Montevideo Wanderers)
Meias: Andrade (Nacional), Fernández (Peñarol), Gestido (Peñarol), Melogno (Bella Vista), Píriz (Nacional) e Riolfo (Peñarol)
Atacantes: Anselmo (Peñarol), Calvo (Miramar Misiones), Castro (Nacional), Cea (Nacional), Dorado (Bella Vista), Iriarte (Racing Club), Petrone (Nacional), Saldombide (Montevideo Wanderers), Scarone (Nacional) e Urdinarán (Nacional) Técnico: Alberto Suppici
Campanha: 4 J, 4 V, 0 E, 0 D, 15 GF, 3 GC
Números da Copa de 1930
Países participantes: 13
Número de jogos: 18
Gols marcados: 70 (3,89 gols por jogo)
Público: 434.500 (24.139 por jogo)
Cidades-sede: 1
Artilheiro: Guillermo Stabile (Argentina), com 8 gols
Posição do Brasil: 6º lugar
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